Prejuízo: Bahia deixou de receber 861 mil doses de vacina contra a covid-19
A Bahia está com uma defasagem de 861.440 doses de vacina contra a covid-19. Isso significa que o estado recebeu do Ministério da Saúde menos imunizante do que o esperado. A situação coloca a Bahia no segundo lugar da lista dos entes federativos brasileiros, perdendo apenas para o Pará, cuja defasagem é de mais de 1,2 milhão de doses. O levantamento é da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Para fazer a conta, a pasta utilizou dados do Ministério da Saúde e a estimativa populacional de 2021 feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cálculo foi realizado levando em conta que, até o último domingo (8), quase 185 milhões de doses de vacina tinham sido distribuídas pelo Governo Federal.
Levando em consideração que a população da Bahia é estimada em quase 15 milhões de habitantes e que isso equivale a 7,02% de toda população brasileira de 213 milhões de pessoas, era necessário que o envio de doses seguisse essa proporção. Isso faria com que a Bahia recebesse exatas 12.978.400 doses. No entanto, até o último domingo, 12.116.960 de ampolas chegaram no estado, o que gera a diferença de 861 mil doses.
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De acordo com Tereza Paim, secretária interina de Saúde do estado, o critério de distribuição das vacinas por parte do Ministério da Saúde leva em conta os grupos prioritários, não o quantitativo estimado da população. “Se faz necessário esclarecer que a Bahia, assim como os demais estados, ainda recebe o quantitativo de vacinas de acordo com o número de pessoas estimadas nos grupos prioritários estabelecidos pelo Ministério da Saúde, ao invés do percentual populacional de cada unidade da federação”, explica. A gestora defende uma revisão nesses critérios.
“Dentre as diversas bases de dados utilizadas para calcular o quantitativo dos grupos prioritários, a principal é a da campanha de 2020 da vacinação contra a gripe (H1N1). Como consequência, na eventualidade de um município não ter executado uma boa campanha de vacinação, o registro ficou comprometido no sistema do Ministério da Saúde, causando distorções no envio de doses”, aponta.
Tereza Paim é secretária interina de Saúde da Bahia (Foto: reprodução) |
“A gente espera que o Ministério possa corrigir essa distorção e possa compensar todos os municípios que perderam, por conta desse critério, uma quantidade expressiva de doses”, defendeu Bruno. No caso de Salvador, a cidade vacinou, ontem, pessoas com 26 anos ou mais. No mesmo dia, a cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, imunizou pessoas com 19 anos ou mais.
Bruno Reis é prefeito de Salvador (Foto: Divulgação) |
Dentro da Bahia, os efeitos dessas distorções são sentidos, na prática, na diferença em que a campanha de imunização ocorre nas 417 cidades do estado. Enquanto a capital continua vacinando hoje pessoas com 26 anos ou mais, cidades como Maetinga, no centro-sul baiano, Barreiras, no oeste e Tanque Novo, no nordeste da Bahia, ainda vacinam pessoas com mais de 35 anos. De acordo com a secretária interina, esse problema é causado pelo próprio critério de distribuição adotado pelo Ministério da Saúde.
“Nossos municípios têm características bastante variadas, com muita ou pouca população ribeirinha, indígenas, pacientes com comorbidades e trabalhadores da saúde. Alguns avançaram mais por causa de um grupo prioritário ou outro. Salvador, por exemplo, como uma metrópole, naturalmente agrega mais trabalhadores da saúde, o que pode ter contribuído para a aceleração na capital”, lembrou Tereza.
No entanto, a secretária concorda que essa diferença não é o ideal e, por isso, algumas iniciativas já foram feitas dentro do estado para tentar corrigir o problema. A Comissão Intergestores Bipartite da Bahia (CIB), por exemplo, definiu que será destinado o mínimo de 10% das doses para os grupos prioritários e 90% para o público em geral de cada cidade, sendo aplicado as doses de forma escalonada, por idade.
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A secretária concorda que essa diferença não é a ideal e, por isso, algumas iniciativas já foram feitas para corrigir o problema. A Comissão Intergestores Bipartite da Bahia (CIB), por exemplo, definiu que será destinado o mínimo de 10% das doses para os grupos prioritários e 90% para o público em geral de cada cidade, sendo aplicadas de forma escalonada, por idade.
A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador foi questionada sobre quanto está a defasagem no envio de vacinas para a cidade, mas não obteve retorno até o fechamento do texto. O Ministério da Saúde também foi procurado e não respondeu.
O que estaria por trás dessa demora nas entregas? O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diz que a burocracia necessária acaba elevando o tempo para a distribuição. Pesquisadores especializados no estudo de campanhas de vacinação no Brasil, contudo, consideram o protocolo de segurança, mas também acreditam que o cenário inclui possibilidades que vão desde erros na logística ao planejamento incompleto.
O pesquisador Ramon Saavedra, doutorando em Saúde Coletiva pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba), afirma que a campanha de vacinação contra a covid-19 tem diversos aspectos que são vistos com estranheza por especialistas que acompanham o Plano Nacional de Imunização (PNI).
“Apesar de desde janeiro terem começado a divulgar planos de vacinação, a execução desses planos não está acontecendo de acordo com a expertise que o PNI vinha tendo ao longo de mais de quatro décadas, inclusive com controle, eliminação e erradicação de doenças”, diz ele, que trabalha diretamente com vacinação na Bahia há seis anos.
Autoridades em outros estados já se posicionaram a respeito da demora. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse que o “senso de urgência” do ministério impressionava. “As vacinas têm sido entregues pelos fabricantes nas datas previstas. Só que não estão sendo distribuídas com a celeridade necessária”, afirmou, em seu perfil no Twitter. Também na rede social, o governador de São Paulo, João Doria, disse que a falta de gestão era “vergonhosa”.