Por que Irã e Israel são inimigos? Entenda a origem do conflito
Irã e Israel se encontram em um dos momentos geopolíticos mais tensos da sua história, depois de a República Islâmica ter atacado diretamente Israel pela primeira vez. Uma análise sobre o caminho percorrido pelos dois países nas últimas décadas permite entender como as duas nações passaram de alianças a hostilidades, e chegaram ao momento crítico da crise no último dia 13 de abril.
No entanto, a relação Israel e Irã nem sempre foi assim. Na verdade, o que acontecia era o oposto. Isso ao ponto do Irã já ter sido, provavelmente, um dos aliados mais “confiáveis” de Israel “até 1979”, ano da Revolução iraniana, de acordo com Abbas Milani, diretor de Estudos Iranianos Hamid e Christina Moghadam da Universidade de Stanford, na palestra “Irã e Israel: Visão estratégica e objetivos” da Universidade da Califórnia em Berkeley, realizada no último dia 18 de março.
Origem
Os aiatolás do Irã (o aiatolá é o líder supremo do país islâmico) têm essencialmente três objetivos: expulsar os Estados Unidos do Médio Oriente, substituir Israel pela Palestina e derrubar a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos, comentou o especialista em Irã Karim Sadjadpour no podcast “In the Room with Peter Bergen”.
Há judeus que vivem no Irã há mais de 2.500 anos. Milani comentou que “viveram ali de forma contínua e amaram o país onde viveram”, como os judeus da comunidade iraniana de Isfahan.
A relação dos iranianos com os judeus foi decisiva na primeira metade do século XX, pois o Irã foi um dos países que concordou com o plano de divisão da Palestina da Organização das Nações Unidas (ONU) que criaria dois Estados: um judeu e outro palestino.
“Mesmo antes da criação de Israel, o Irã foi um dos países que apoiou a criação do Estado de Israel na ONU. Mas também era indiscutivelmente a favor de ter um plano para os palestinos”, enfatizou Milani.
Após a declaração de independência de Israel em maio de 1948, houve várias guerras (1948, 1967, 1973) entre o novo Estado judeu e países árabes vizinhos.
Interesses
Embora seja notório que existiam desacordos, o Irã se afasta do conflito com Israel. Abbas Milani explica que, além da sua população judaica, o Irã partilhava importantes interesses econômicos com Israel, sobretudo em dos maiores motores da economia iraniana: o petróleo.
“A partir de 1955, o Irã começa a vender petróleo a Israel a preços reduzidos. Assim que alguns estados árabes do outro lado do Golfo Pérsico começaram a dizer “não podemos vender este petróleo”, o Irã disse que o venderia com desconto”, explicou o especialista da Universidade de Stanford.
É depois da guerra israelense-árabe de 1967, também conhecida como a Guerra dos Seis Dias, que as relações entre Irã e Israel se tornaram mais antagônicas. A companhia Eilat-Ashkelon Pipeline, uma subsidiária da Trans-Asiatic Oil, fornecia petróleo iraniano a Israel.
Em 1973, os Estados árabes membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC) proibiram as vendas aos Estados Unidos e a alguns países europeus, como represália ao apoio militar que estes países deram a Israel no meio das negociações de paz pós-guerra, segundo o Departamento de Estado dos EUA.
“Há provas de que, entre 1975 e 1977, Israel estava ajudando o Irã a desenvolver um programa de armamentos. Assim de perto estavam em termos de aliança”, acrescentou o especialista Abbas Milani.
Revolução
A inimizade chegou ao seu ponto culminante com a Revolução iraniana de 1979, com a qual se produziu a queda do Xá Mohammad Reza Pahlavi e se instaurou o regime confessional do aiatolá Ruhollah Musavi Jomeini, que esteve 14 anos no exílio. O governo do Xá do Irã e Israel eram aliados em vários outros aspectos, como a oposição ao presidente egípcio Gamal Abdel Nasser e sua ideologia de Pan-Arabismo ou sua luta contra a influência da União Soviética no Oriente Médio, segundo o livro Israel e Irã: A Dangerous Rivalry.
No entanto, a revolução iraniana foi um ponto de virada e as coisas nunca mais voltaram a ser como eram antes de 1979. As informações são da CNN Brasil.