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Para especialista, o aumento nos diagnósticos de autismo era previsto, mas o sistema de ensino não se preparou

Para especialista, o aumento nos diagnósticos de autismo era previsto, mas o sistema de ensino não se preparou

Em uma sala com 36 alunos, ao menos um será autista. O número segue uma estimativa divulgada pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (da sigla em inglês CDC), que em 2020 apontou um aumento na prevalência de criança com a condição.

O cenário é reforçado pelos dados das redes municipal e estadual de ensino de Campinas (SP), que viram o número de autistas nas escolas crescer em 25 veze ao longo de uma década.

Cerca de 20 anos antes, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) parecia menos frequente, sendo previsto em uma a cada 150. O problema é que, segundo especialistas, embora o aumento fosse esperado, a capacitação dos profissionais de educação não acompanhou o mesmo ritmo.

Neste mês são celebrados os dias Mundial de Conscientização Sobre o Autismo e o Nacional da Luta pela Educação Inclusiva.

Como a educação deve se preparar para atender essa demanda crescente? Para a psicóloga Camila Canguçu, supervisora do Programa de Atenção aos Transtornos do Espectro do Autismo (Pratea) da Unicamp, este é o momento da área se abrir para entender o autismo a fundo e criar os recursos necessários para atender estudantes de todas as idades.

“Esse aumento nos diagnósticos era esperado. O que não aconteceu foi a preparação dos profissionais que trabalham, mas tenho visto que muitos estão procurando essa capacitação. Eles mostram interesse e eu vejo que isso é muito positivo”, ressalta.

Dados enviados pelas secretarias Municipal e Estadual de Educação dão uma demonstração do quanto cresceu o número de autistas matriculados nas escolas de Campinas (SP). Em 2014, na rede municipal de ensino, eram apenas 43, mas 10 anos depois chegou a 1.083. Já na rede estadual o salto foi de 84 para 581.

Por que é importante falar do acesso dos autistas à educação? Segundo o Manual de Diagnósticos e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o TEA é uma condição atípica do neurodesenvolvimento humano – que surge na formação do cérebro – e é caracterizada, principalmente:

– por atraso ou a dificuldade da linguagem (incluindo habilidades de comunicação e socialização);

– rigidez cognitiva (o que envolve comportamentos repetitivos ou rígidos);

– disfunções no processamento sensorial (como alta sensibilidade).

Esses critérios são fundamentais para o diagnóstico, mas podem se manifestar de formas diferentes em cada pessoa. Além disso, o TEA é classificado pelo nível de suporte que o paciente necessita para desenvolver suas tarefas. A escala vai de 1 a 3 (de menor a maior necessidade de auxílio).

Levando tudo isso em consideração, é válido dizer que alunos autistas podem necessitar de suporte específico para se desenvolverem na sala de aula. Por isso, é importante que educadores e outros profissionais entendam suas características, como exemplifica Camila Canguçu.

“Aprender a brincar é um requisito fundamental na infância, só que a criança autista pode não ter a habilidade, os recursos, para brincar com os colegas ou fazer com que brinquem com ela. Aí a criança tenta, mas não tem ninguém para fazer a mediação”, fala a psicóloga.

“Essa criança vai tentar uma, duas vezes. Não vai conseguir e vai parar. Ela vai começar a apresentar comportamentos que atrapalham a interação social, que podem ser de frustração, agressividade, isolamento. Simplesmente porque não teve um mediador para ajudar nessa comunicação”.

Dessa forma, a especialista pontua que se os diagnósticos de autismo estão se tornando mais recorrentes é fundamental que as escolas tenham, o quanto antes, profissionais que compreendam as limitações causadas pelo TEA e possam dar o suporte necessário ao aluno.

O que é uma educação preparada para entender e atender autistas? Para a doutora, um profissional capacitado para atender pessoas com TEA na educação é aquele que olha pelo ponto de vista da análise de comportamento. “Não é apenas fazer com que as pessoas saibam do TEA do ponto de vista da saúde. É capacitar esses profissionais com dicas e estratégias para que saibam observar e entender essas pessoas no espectro”.

“Com a análise do comportamento, o profissional vai poder dizer: ‘esse meu aluno hoje está mais agitado’, e pensar o que está causando isso. Às vezes pode ser algo no ambiente, uma mudança na luz, uma mudança no lugar que ele se senta, ou até barulho. Com isso, o profissional já consegue fazer os ajustes”, exemplifica. As informações são do portal de notícias G1.