Mensagens revelam que Hang financiou blogueiro bolsonarista, diz TV
Allan dos Santos, que é dono do canal conservador “Terça Livre”, é investigado em dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) por disseminação de fake news e ameaça e incitação ao crime contra autoridades.
Em setembro, a ministra Rosa Weber determinou a manutenção da quebra dos sigilos telefônico, telemático, bancário e fiscal do blogueiro. Allan dos Santos é considerado uma espécie de líder informal das redes bolsonaristas, e muito ligado aos filhos do presidente Bolsonaro.
Nas mensagens interceptadas pela Polícia Federal, às quais o “Jornal Nacional” teve acesso, Allan dos Santos pede a Eduardo Bolsonaro que o coloque em contato com Hang, considerado um empresários mais ricos do Brasil, dono das Lojas Havan e um dos principais apoiadores de Bolsonaro.
Eduardo então envia o número do telefone de Hang, mas questiona: “Quer que eu fale algo a ele para te introduzir?”. Allan responde. “É melhor”. Horas depois, o filho do presidente envia nova mensagem a Allan dos Santos, já com a resposta de Hang.
“Ele disse que você pode entrar em contato com ele. Falei que você é o nosso cara da imprensa para um projeto que desenvolvemos aqui nessa semana de aulas do Olavo”, disse Eduardo Bolsonaro, referindo-se a Olavo de Carvalho, professor, astrólogo e guru de Jair Bolsonaro.
No dia seguinte, o blogueiro bolsonarista volta a entrar em contato com Eduardo. “Sobre o Hang, quando ele voltar da Europa, falarei com ele”. O filho do presidente então responde: “Beleza. Falei no macro com o Hang”.
Quatro meses depois, Allan dos Santos escreve nova mensagem a Eduardo, desta vez, comemorando o fechamento de patrocínio para o seu programa. “Luciano Hang está dentro. Patrocínio para o programa.”
A CPI da Covid, no Senado Federal, aponta para a existência de uma verdadeira organização criminosa disseminadora de fake news antes —e durante— a pandemia de covid-19. E que Allan dos Santos seria uma das principais peças.
A comissão apurou ainda que políticos, empresários e sites utilizaram a rede conhecida como “gabinete do ódio” (responsável por espalhar notícias falsas ou reforçar sua narrativa em redes sociais).
“É a existência de uma verdadeira organização criminosa de fake news, que teve papel determinante no agravamento da pandemia. Veja: essa organização criminosa começa a se articular e a se constituir a partir de 2019 e, na pandemia, para reforçar o discurso negacionista do presidente da República e de seu governo”, disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em entrevista ao “Jornal Nacional”.
A CPI aprovou nesta quinta-feira 924), o requerimento de convocação de Luciano Hang para depor perante ao colegiado na próxima semana. A comissão quer saber, dentre outras coisas, sobre o seu elo com o gabinete do ódio. Em resposta nas redes sociais, Hang disse que “será um prazer depor” aos senadores.
“Não faço parte de gabinete nenhum. A imprensa deveria ser baseada na verdade dos fatos e não em narrativas. Se a CPI tem posse de algum documento que diz que ajudei ou financiei direcionamento de mensagens falsas, o documento é falso. Não pode existir prova de algo que nunca fiz. Dizer que patrocinei veículos de internet que disseminaram desinformação, é uma mentira. Quem está divulgando esses absurdos terá que provar. O que não conseguirão, pois nunca financiei ou fiz parte de qualquer tipo de grupo com essa finalidade”, disse.