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Melhoria do ensino passa por mais tempo dos alunos em sala de aula

Melhoria do ensino passa por mais tempo dos alunos em sala de aula
Em fórum do Estadão, especialistas avaliam ser necessários investimentos em tecnologia e apoio a professores.

A necessidade de mudança no ensino das escolas públicas ficou ainda mais evidente após a pandemia. E, para isso, são necessários mais investimentos em tecnologia, a ampliação do ensino integral e maior apoio do poder público para os professores. O foco nessas áreas foi defendido por especialistas e gestores no Fórum Reconstrução da Educação, promovido ontem pelo Estadão.

A ampliação da jornada escolar, apontada pelos educadores como uma urgência para elevar a qualidade do ensino brasileiro, também passa por uma série de desafios. “Com poucas horas de aula, é difícil fazer um trabalho integral”, disse Luiz Miguel Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). “É necessário ter tempo para fazer isso. Ainda que exista interesse, é preciso saber como operacionalizar e ter clareza de quais são as alavancas que permitem que o ensino integral seja realizado com mais condições”, acrescentou ele, que é secretário de Educação no município de Sud Mennucci, interior de São Paulo.

Em entrevista ao Estadão na semana passada, a presidente do Instituto Singularidades, Claudia Costin, afirmou que “nenhum país que se industrializou tem quatro horas de aula por dia”. Ela também foi uma das participantes do Reconstrução da Educação. Segundo o Censo Escolar de 2022, só 14,4% dos alunos da rede pública estão matriculados no ensino integral em todo o País – o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece 25% dos alunos da educação básica no ensino integral como meta para 2024. O levantamento aponta, ainda, que metade das escolas públicas brasileiras não possui nenhum estudante nessa modalidade.

DESAFIOS. Secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Izolda Cela, disse que, além das preocupações com o novo ensino médio, o MEC prioriza mais três desafios até o fim de 2023. Um deles é adotar a escola de tempo integral; outro será melhorar os níveis de alfabetização e o terceiro é incentivar a conectividade.

Para Izolda, ensino integral não se restringe a mais tempo de ensino, é preciso garantir a qualidade da oferta. “É mais tempo com substância, qualidade no currículo, condições suficientes para conforto das crianças e adolescentes.”

Há duas semanas, o MEC apresentou um projeto para ensino em tempo integral, que ainda precisa de aprovação do Congresso para se tornar lei.

INCENTIVO. A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) defendeu o Poupança Ensino Médio, projeto que prevê incentivo financeiro para evitar que alunos em situação de pobreza e extrema pobreza abandonem as escolas. “Em muitos locais, as escolas de tempo integral são inviáveis para o aluno de baixa renda. A Poupança Ensino Médio vem para que o jovem não tenha de escolher entre investir no próprio futuro ou levar pão para casa.”

Para Vitor De Ângelo, presidente do Conselho de Secretários Estaduais de Educação (Consed), provas de avaliação do ensino das escolas públicas brasileiras devem mostrar “um país mais torto” após a crise da covid-19. “Em certos lugares, um trabalho pode ter sido bem feito pelas secretarias e os resultados podem aparecer. Mas em outros pode ser que os resultados não apareçam. Os efeitos da pandemia ainda vão ser sentidos”, disse ele, secretário da rede capixaba.

Por São Paulo, o secretário da Educação do Estado, Renato Feder, diz que o foco para melhorar o desempenho está no suporte oferecido às escolas. “Se queremos resultados, precisamos apoiar a sala de aula. Somos uma rede de serviço e o serviço principal é a aula.”

Romildo Calixto, professor da rede estadual de Vespasiano, na Grande Belo Horizonte, lembra que é necessário que o MEC escute mais quem está no chão da escola. “É muito importante que o MEC ouça nossas especificidades. Sem ouvir e investir no professor, não é possível colocar nenhum currículo em prática”, afirma.

Tecnologias de inteligência artificial ganham força e se espalham por diversos setores, inclusive nas escolas. Mas, para a cientista da computação Nina da Hora, robôs e inteligências artificiais não substituem o papel do professor em sala de aula. “Temos a tendência de achar que tecnologias resolvem lacunas de relacionamento e comunicação”, afirmou ela durante o Fórum Reconstrução da Educação. “É um algoritmo que, em teoria, conheceria mais do aluno que o próprio professor, que passa a manhã inteira com o aluno”, diz Nina, que também é integrante do Conselho de Segurança do TikTok Brasil.

Para ela, é necessário encontrar maneiras de inserir tecnologias no ambiente escolar e a saída está em colocar professores e alunos como atores centrais nesse processo. “Se tornou urgente debater como vamos equilibrar o uso das tecnologias no ambiente educacional. E, para isso, precisamos olhar para o contexto do trabalho do professor”, diz.

“Eu ouvi aqui (no Fórum Reconstrução da Educação) sobre gamificação e a importância de softwares, mas me preocupa que essa importância seja colocada acima do conhecimento que a equipe escolar tem com relação a determinado aluno por conviver com ele, por tocar nele e por olhar nos olhos dele”, afirma.l

Ensino integral no Brasil Metade das escolas públicas não tem nenhum aluno na modalidade, diz Censo Escolar de 2022.

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Fonte: pressreader.com/O Estado de S. Paulo