Mais de 40% das mulheres inférteis têm sintomas de depressão
A infertilidade e seus tratamentos trazem repercussões emocionais importantes na vida de casais que querem ter filhos. Quando há a chance desse desejo não ser realizado, sentimentos de incapacidade, culpa e tristeza são bastante comuns, principalmente para a mulher — já que a maternidade ainda é vista por muita gente como um aspecto fundamental da identidade feminina e essa dificuldade é percebida, muitas vezes, como uma falha.
Isso nos mostra que, nessas horas, é essencial cuidar da mente, além do corpo. Assim, a saúde mental possui um papel fundamental nos tratamentos de infertilidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são cerca de oito milhões de brasileiros que podem ser inférteis. E a depressão é uma doença crônica que pode ameaçar a saúde e o sonho de muitos indivíduos.
Os especialistas estão atentos a isso. Um artigo publicado recentemente investigou os sintomas de depressão entre mulheres inférteis e apontou uma prevalência de 44,32% em países de baixa e média renda e 28,03% em países de alta renda.
Já uma pesquisa de 2016 aponta que, quando se deseja a gravidez, as mulheres inférteis têm mais chances de depressão do que as férteis. Na verdade, a perda de controle e os sentimentos diante de um diagnóstico de infertilidade estão entre as principais causas de depressão.
Esse estudo mostrou também que as mulheres inférteis e com depressão mostraram uma maior culpa e baixa autoestima (24,9%) em comparação às férteis, além de outros fatores associados, como: maior tempo de infertilidade; falta de apoio do parceiro; idade avançada; e menor nível socioeconômico – que podem inviabilizar a realização de tratamentos de reprodução assistida.
É importante ressaltar que os homens não são imunes à depressão devido à infertilidade. Outro estudo, publicado em umas das principais revistas sobre infertilidade do mundo, a Fertility and Sterility, concluiu que aproximadamente 50% dos homens cujas parceiras se submetem à Fertilização in Vitro (FIV) experimentam sintomas depressivos, enquanto 2,28% têm depressão maior ativa.
Tristeza x depressão
As psicólogas Helena Montagnini e Cássia Avelar, pontuam que a maneira como cada pessoa vive essa situação pode variar, mas o sofrimento é algo sempre presente.
Pode ser vivenciada, por exemplo, como uma perda e um consequente luto, em diferentes momentos: quando se descobre que a gestação provavelmente não acontecerá sem tratamento, quando há insucessos nos tratamentos e até mesmo quando a gravidez é seguida pelo aborto.
Elas ressaltam ainda que, diante disso, muitas pessoas com infertilidade experimentam tristeza e até depressão. Mas precisamos reconhecer as diferenças entre esses dois quadros, já que estar triste e desanimado não significa necessariamente estar com depressão.
A tristeza é uma resposta emocional normal e temporária diante de uma situação não esperada e não desejada, como, por exemplo, um diagnóstico de infertilidade e a indicação de um tratamento de reprodução assistida. Já a depressão é uma doença, classificada no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da American Psychiatric Association (DSM-5, 20104).
Essa condição psíquica é caracterizada quando há a presença de sinais mais persistentes, que se combinam entre si, como humor deprimido na maior parte do dia, diminuição do interesse ou prazer, insônia ou hipersonia, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada, entre outros. Esses sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas essenciais da vida.
Dessa forma, é sempre importante dar visibilidade aos sentimentos para a busca de apoio por especialistas. Pessoas com infertilidade que sofrem de depressão devem procurar tratamento para ambas as condições. Embora a infertilidade possa ser a causa da depressão, é essencial tratar ambos os problemas em conjunto.
Muitas vezes, os sentimentos vivenciados pelos pacientes são identificados nas clínicas onde são realizados os tratamentos de reprodução assistida. Nesses espaços, é possível ter um acolhimento psicológico e orientação adequada. O cuidado com a saúde mental possibilita a elaboração de lutos, angústias e ansiedades, propiciando tomadas de decisões coerentes e que ajudam muito para se conseguir o tão desejado filho.