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Mais da metade dos brasileiros que entram na faculdade desistem do curso antes de se formar

Mais da metade dos brasileiros que entram na faculdade desistem do curso antes de se formar

Mais da metade (55,5%) dos alunos que entram na faculdade no Brasil desiste dos cursos antes de se formar. Nas áreas de tecnologia, como Ciência da Computação, Design de Games e Sistemas de Informação, que estão entre as que mais empregam, o abandono é ainda maior do que a média: 6 em 10 saem antes de terminar. Os números são do Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Instituto Semesp, e o motivo da desistência: frustração com currículos e questões econômicas e de mercado.

“Eles (os ingressantes) querem ter contato com o mundo do trabalho, gerar renda, ser mais independentes e acabam se frustrando com discussões teóricas”, afirma o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato. Pela primeira vez, a pesquisa da entidade, que representa as faculdades privadas em todo o País, mapeou indicadores de trajetória dos alunos e não só evasão informada no primeiro ano.

Depois de TI, as áreas que mais perdem alunos são as engenharias. Do total que ingressou em 2017, 56,3% não terminaram o curso em 2021. Nas universidades privadas, a desistência é ainda maior em todas as áreas. Nas engenharias, chega a 63%; em Direito, o índice é de 54,2%, o mesmo de Pedagogia.

Usando o ano de 2017 como base para ingressantes na faculdade, os dados mostram que 55,5% dos alunos tinham deixado os cursos em 2021 no Brasil. Após cinco anos, apenas 26,3% haviam se formado e outros 18,1% ainda estavam cursando.

Para Capelato, a desistência em cursos de graduação é uma preocupação no mundo todo, pela pouca aderência que o curso superior tem em relação à expectativa dos jovens. Mas o Brasil tem números mais altos, segundo ele, principalmente por questões econômicas. “A pessoa ingressa e não consegue continuar pagando. Ou entra no curso mais barato porque é o que pode pagar, mas não estava vocacionada para aquela área”, afirma. “Muitas vezes quer fazer Arquitetura, mas faz Pedagogia a distância porque é o que cabe no bolso. A chance de se frustrar e desistir é enorme”, diz.

Os números mostram que a desistência é maior em instituições privadas (59%), mas o número é alto até entre as públicas (40,3%), gratuitas e consideradas de excelência no País. Também há maior abandono em cursos feitos a distância (EAD) do que nos presenciais.

Nos últimos anos, o Brasil tem registrado alta significativa de cursos EAD, com preços mais baixos e que atraem principalmente estudantes de baixa renda e levam a questionamentos sobre a qualidade de formação. O aumento da oferta entre 2020 e 2021, segundo o Mapa do Ensino Superior, foi de 26,6% na rede privada, onde estão 92,6% dos cursos não presenciais.

Atualmente, 62,8% dos estudantes que entram no ensino superior brasileiro vão para cursos a distância. A inversão com relação aos cursos presenciais vem desde 2019, e se acelerou com os efeitos da pandemia. A área com menor desistência é Medicina, com cursos caros em universidades privadas e difíceis de entrar, o que faz com que seja uma opção mais refletida. Só 18% dos estudantes de Medicina desistem.

Perspectivas

Para pesquisadores especializados em juventude, recortes precisam ser feitos para que se possa pensar sobre a universidade do futuro no Brasil, país que tem 50 milhões de habitantes na faixa etária de 15 e 29 anos e 8,9 milhões de universitários (segundo o Censo da Educação Superior de 2021).

Paulo Carrano, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que o papel do ensino superior no País está muito vinculado à forma como a educação básica é implementada. “Ela acaba servindo como um ‘plus’ nas chances de empregabilidade, quase que a chance de você se inserir produtivamente. E não deveria ser isso, mas um percurso de aprimoramento, de desenvolvimento, profissional até.”

Ele foi responsável por coordenar a pesquisa Juventudes do Brasil pelo Observatório da Juventude na Ibero-América (OJI). Publicado em 2021, o levantamento aponta que, embora sejam mais escolarizados que seus pais, os jovens de agora vivem uma situação de insegurança em relação ao trabalho e sentem, por exemplo, mais medo de ficar sem emprego no futuro do que de perder o emprego atual. “É o desafio entre prover para sua família e, ao mesmo tempo, apostar em uma inserção no ensino superior que no futuro pode ou não dar recompensa. A gente tem diante de nós algo que a estatística chama de desemprego de formação, que são pessoas altamente qualificadas que não conseguem colocação no mercado”, afirma.

A educação ocupa o quarto lugar nas preocupações dos ouvidos pela pesquisa. São mencionados fatores como o acesso ainda restrito à educação superior no País, a falta de condições de continuar estudando, a dificuldade de conciliar trabalho e estudo e a falta de garantia de empregabilidade compatível com a escolaridade atingida.