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Integrantes do Ministério Público pedem rejeição de PEC que tira autonomia da instituição

Integrantes do Ministério Público pedem rejeição de PEC que tira autonomia da instituição

Os Ministérios Públicos de todo o Brasil farão ato público simultâneo nesta quarta-feira contra a Proposta de Emenda Constitucional 05/2021. Em vias de ser votada pela Câmara dos Deputados, a PEC tira a autonomia da instituição.

A Proposta de Emenda Constitucional foi apresentada pelo deputado Paulo Teixeira, do PT, e estava em análise numa comissão especial, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira, do Progressistas, decidiu levar a matéria direto para votação em plenário.

O relator, Paulo Magalhães, do PSD, apresentou, então, um novo texto, ampliando as mudanças na composição e no funcionamento do CNMP, o Conselho Nacional do Ministério Público, responsável por fiscalizar a conduta de promotores e procuradores.

A proposta amplia de 14 para 15 o número de integrantes do CNMP, e aumenta de duas para quatro as indicações que a Câmara e o Senado podem fazer. O Ministério Público perde uma indicação.

Além disso, o texto dá ao Congresso o poder de escolher o vice-presidente do conselho, que passaria a acumular a função de corregedor do Ministério Público.

O corregedor é o responsável pela condução de processos disciplinares contra promotores e procuradores. Atualmente, o vice-presidente do CNMP é o vice-procurador-geral da República, e o corregedor é eleito pelos conselheiros.

Outro ponto criticado é que a PEC dá ao conselho o poder de rever e mudar decisões de integrantes do MP. Segundo o texto, isso irá acontecer quando se observar a utilização do cargo com o objetivo de se interferir na ordem pública, na ordem política, na organização interna e na independência das instituições e dos órgãos constitucionais.

Na prática, a mudança poderá afetar qualquer ação dos procuradores, como denúncias e acordos de colaboração premiada. Atualmente, cabe ao Judiciário dizer se os atos dos membros do Ministério Público estão corretos.

O texto tem sido alvo de duras críticas de integrantes do MP. Pelo menos 40 subprocuradores e subprocuradoras-gerais da República já assinaram um manifesto pedindo a rejeição da proposta.

Eles alertam que, se a proposta for aprovada pelo Congresso, a consequência será a destruição do modelo de Ministério Público, como consagrado pela Constituição de 1988, notadamente com a debilitação da independência funcional, que permite a seus membros não se sujeitarem a pressões, interesses políticos e outras injunções.

Eles afirmam ainda que as mudanças levarão à “desfiguração do Conselho Nacional do Ministério Público como órgão de controle externo isento, descaracterizando sua destinação constitucional autêntica e reduzindo-o a sombrio instrumento de opressão e intimidação dos membros do Ministério Público”.

A Associação Nacional dos Procuradores da República ressalta que a proposta fere a independência funcional do Ministério Público e tira a competência da Justiça de avaliar os atos de promotores e procuradores. Em uma nota técnica, a ANPR pediu mudanças no texto, e quer debater cada ponto com os parlamentares.

O diretor da ANPR, Júlio Araújo, afirma que, do jeito que está, o projeto é inadmissível.

“Nós não concordamos com a proposta é como ela está, a forma como ela ataca a independência do MP e cria um desenho do Conselho Nacional do Ministério Público, que fragiliza a independência da instituição e gera muita interferência política no funcionamento do órgão. Essa PEC, do jeito que ela está, ela é inadmissível, e é necessário rejeitá-la porque ela viola a independência no MP e ataca o coração da instituição”, declarou.

O deputado Paulo Teixeira diz que concorda em debater os pontos do texto questionados pelos procuradores e até mudá-los. Mas a intenção, segundo ele, é melhorar a fiscalização do Ministério Público e seu funcionamento.

“Acho que tem um diálogo para aprovar o relatório do relator sem esses quatro pontos que o MP indicou como sensíveis, como inadmissíveis, para que nós possamos retirá-los do relatório, votar e vai para o Senado. E aí terá ainda uma possibilidade de um amadurecimento desse tema”, alegou.

O presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público diz que as mudanças fragilizam o MP, o que é ruim para a sociedade.

“O Ministério Público brasileiro está procurando uma conscientização da sociedade e do parlamento de que esta PEC é ruim para o país e é ruim para a nação. Nós realmente acreditamos na maturidade deste debate, sobretudo com os líderes partidários, para que nós não tenhamos um retrocesso em várias bandeiras que são importantes para o País e para a República”, destacou Manoel Murrieta.