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Idoso deve ou não continuar trabalhando ?

Idoso deve ou não continuar trabalhando ?

Recentemente, o presidente norte-americano Joe Biden anunciou sua desistência em se candidatar à reeleição, após semanas de especulações sobre sua capacidade física e agilidade mental aos 81 anos. Mas a idade pode mesmo ser um impeditivo para um bom desempenho profissional?

O primeiro aspecto que os especialistas fazem questão de reforçar é que cada vez teremos mais idosos, e essa mão de obra já importante será ainda mais no futuro. O contingente mundial de idosos a partir de 65 anos, hoje estimado em 761 milhões, deve mais que dobrar até 2050.

No Brasil, segundo o Censo Demográfico de 2022, essa faixa já representa 10% da população — frente a 7,4% em 2010. Nesse mesmo período a idade mediana do brasileiro passou de 29 para 35 anos. Mas e agora? Todos os octogenários estão bem para continuar ativos e trabalhando? Ou nenhum está?

“Temos pessoas de 80 anos que fazem tudo, são completamente independentes, já outras de 60 que são frágeis, com várias limitações. Então, a idade cronológica realmente não define o indivíduo”, afirma a geriatra Lívia Capuxim, titulada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

A tendência é cada vez mais ver pessoas como Caetano Veloso, ativíssimo aos 81 anos, o presidente Lula, governando o País aos 78 anos. Aos 94 anos, Fernanda Montenegro segue nos palcos, com apresentações esgotadas em São Paulo.

Afinal, por que algumas pessoas envelhecem bem e lúcidas enquanto outras não é, como grande parte das questões de saúde, um fenômeno multifatorial, explica o neurologista Rodrigo do Carmo Carvalho, da Clínica DFVneuro e Hospital Sírio Libanês:

“Isso tem a ver com aspectos biológicos, com hábitos de vida, doenças cardiovasculares, como pressão alta, diabetes, colesterol, atividade física que fez ao longo da vida, nível educacional, nível socioeconômico e a questão genética. E tem, ainda, o fator circunstancial, como um acidente com sequela neurológica. Essa variabilidade de experiências que alguém tem ao longo da vida é que dita essa diferença. Por isso é difícil de predizer.”

O avanço da idade obviamente deixa marcas progressivas. Conforme a geriatra Maísa Kairalla, do Núcleo Avançado de Geriatria do Hospital Sírio Libanês (São Paulo), nessa faixa etária é natural ficar mais lento no sentido físico e mental, ter menos músculo e rapidez, ter a debilidade mecânica de um processo degenerativo nas articulações (que faz com que a pessoa digite ou caminhe mais devagar).

A velocidade de processamento das informações também é mais lenta e a capacidade de abstração é menor. Mas o indivíduo pode ser independente e capaz de administrar tudo isso.

“O envelhecimento não te torna doente. Mas a incidência de doenças a partir do envelhecimento aumenta. Ou seja, é mais frequente ter demência, artrose, neoplasias, quedas, mas isso não te torna incapaz. Pelo contrário, você pode ser funcional aos 110 anos. A idade cronológica não quer dizer que uma pessoa não possa ser presidente dos EUA ou diretor de uma grande empresa”, avalia Kairalla.

Assim, as pessoas não devem creditar eventuais limitações à idade e acabou. O secretário do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e neurologista do Hospital das Clínicas da USP, Adalberto Studart Neto, alerta que quando as pessoas sentem a memória falhando ou estão mais desatentas devem procurar um médico e fazer uma avaliação neurológica.

É importante também dar ouvido aos familiares ou assistentes que às vezes percebem antes a diferença. “A pessoa pode fazer um teste para verificar se há um comprometimento cognitivo (que pode ser leve ou indicar um início de demência) ou se está dentro da normalidade”, acrescenta.

Serão avaliadas memória ou capacidade executiva, agilidade mental, planejamento, abstração, rigidez de pensamento, flexibilidade cognitiva, que geram uma capacidade de usar sua capacidade de forma adequada

Se realmente há um comprometimento, a pessoa que está trabalhando, seja um CEO, um engenheiro, um médico, pode começar a se preparar. O ideal seria isso, mas o que acontece é que “as pessoas postergam a procura pelo médico”.

Voz da experiência

Mas não são apenas problemas que os anos trazem, conforme analisa Studart Neto. “Existem funções cognitivas que declinam, como a memória episódica (o que ia dizer, um nome, o que fez), e a velocidade de processamento cognitivo. Mas tem algumas que melhoram, como a memória semântica, do conhecimento, o vocabulário. Ele não tem a mesma velocidade que o jovem, a mesma dinâmica, mas pode ter uma capacidade de decisão mais sólida”.

Ou seja, uma pessoa idosa pode não se sair bem em um debate (que foi o estopim para a crise da candidatura Biden), mas isso não quer dizer, necessariamente, que ela não pode administrar um país ao tomar decisões mais bem embasadas.