HAVIA UM RIO…
Para Urbino Brito –
Tu sabes? Outrora havia um rio, um grande rio, cheio d’água.
Tu já viste um rio cheio d’água?
Pois é, havia, havia aqui.
Era um rio tão cheio d’água…
E tu sabes que a água é a fonte da vida?
Pois é: o rio era cheio d’água, logo, cheio de vida!
Em suas águas viviam tantos peixes que o rio ganhou o nome:
Rio dos Peixes!
E suas margens? Ah! em suas margens habitavam imensas florestas
Florestas cheias de grandes árvores: Jacarandás, paus-brasil,
Pequis, vinháticos, canelas…
Não tinha cravo, mas tinha a cor de canela e a árvore doce.
Suas margens eram também cheias de Buranhém,
A árvore doce, da casca doce, do fruto doce,
Que adoçava a vida dos nativos e lhe deu o nome original:
Rio Buranhém!
O rio vem lá do alto das serras das gerais mineiras,
Caminha sinuosamente por entre serras e morros, baixios e planos,
Até desaguar, lá longe, no mar.
Naquele porto, que desde Cabral, chamam de seguro.
São milhões os seres vivos, vegetais e animais que se nutrem de suas águas.
Das onças pintadas aos pequenos coelhos e preás.
Da imponente anta, aos veados e cotias.
E todos os tipos de macacos, do prego, aos saguins.
Afora aqueles, além dos peixes, que vivem em suas águas:
Jacarés, jiboias, lontras e ariranhas, tartaruga d’água
Todos a curtirem seu frescor e os alimentos encontrados em seu leito,
Leito farto de vida!
Afora o animal de dois pés, altivo, consciente da vida:
Plantava, colhia, caçava, coletava os frutos.
Mas nunca demais, sempre pensando no amanhã:
No amanhã a mesma terra alimentaria seus filhos.
Mas um dia o homem branco chegou, vindo de mares distantes.
As grandes árvores, cortou;
Dos animais, fez sei alimento;
Do rio, sua reserva de pesca.
De repente o rio começou a sentir:
Os homens retiravam muitas de suas águas para beber,
Banhar-se todos os dias, irrigar plantações e alimentar indústrias.
Devolvia apenas os dejetos infectados!
E o rio foi perdendo suas águas, seu vigor, sua vida.
As pedras que guardavam as tocas onde viviam os pitus,
Mostraram-se como se costelas fossem,
Retratadas pela teleobjetiva de Urbino.
Pois é, o rio está mal,
Muito mal.
Sobreviverá? Quem sabe?
Quem sabe, talvez, um dia?
Tu sabia, tu viu?
Como ser vivo o rio nasce, o rio cresce, o rio corre,
Mas um dia o rio mostra suas costelas de pedras descarnadas:
O rio morre!
Roberto R. Martins, Eunápolis, 22/12/23.