BNDES prevê dobrar crédito para “reindustrializar” o País
A nova gestão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem como uma das prioridades trabalhar pela “reindustrialização” da economia nacional, como já colocou o presidente da instituição de fomento, Aloizio Mercadante, mas a estratégia não passará, como no passado, por oferecer crédito a juros menores em larga escala. É o que garante José Luís Gordon, escalado na equipe de Mercadante como diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior.
Economista especializado em políticas de fomento à inovação, Gordon diz que o foco do apoio à “reindustrialização” será a modernização tecnológica e os negócios nascentes. O objetivo é dobrar o apoio do BNDES à inovação, do atual 1% da carteira de crédito – cerca de R$ 4,6 bilhões -, para 2%. De acordo com o diretor do BNDES, a carteira de crédito do banco já chegou a ter 5,5% destinados para inovação empresarial.
O apoio à inovação buscará parcerias e lançará mão de fontes de recursos não reembolsáveis ou com juros diferenciados para dar forma a linhas específicas. Essas fontes têm recursos limitados e, portanto, as condições mais vantajosas não serão oferecidas em todas as linhas do BNDES.
Escolas conectadas
A primeira ação, segundo Gordon, será colocar em prática uma linha de financiamento, com recursos não reembolsáveis, para a instalação de equipamentos para conectar escolas públicas à internet. A política está sendo desenhada pela Casa Civil. Os recursos virão do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), formado com contribuições obrigatórias das empresas do setor.
Como os recursos são não reembolsáveis, não se trata de empréstimos. Os valores serão repassados a governos, municipais e estaduais, que cuidam das redes de ensino, mas a indústria poderá se beneficiar da demanda por equipamentos. A previsão é que a linha tenha cerca de R$ 1 bilhão em quatro anos, incluindo R$ 150 milhões previstos já para este ano.
O passo seguinte, conforme Gordon, será desenvolver duas novas linhas de financiamento, capazes de combinar diferentes instrumentos de apoio, incluindo recursos não reembolsáveis.
Uma das linhas será focada em parques tecnológicos, sediados em universidades ou institutos de pesquisa e ensino, com empresas âncora e firmas inovadoras nascentes, as chamadas startups. A outra será focada no apoio direto a essas startups, com uma visão de todo o ciclo de crescimento das empresas, oferecendo os instrumentos financeiros mais adequados para cada fase, como investimento em participação acionária, via fundos ou diretamente, emissão de títulos de dívida e empréstimos tradicionais.
Gordon não mencionou valores para as linhas, ainda em discussão, mas eles tendem a ser pequenos na comparação com o crédito total do BNDES para a indústria, que, apesar de bilionário, vem diminuindo nos últimos anos, na esteira da retração geral do BNDES, iniciada em 2016, pelo governo Michel Temer (MDB). Em 2021, o banco liberou R$ 10,4 bilhões para o setor, 16,2% do total. No auge dos desembolsos do banco, em 2010, empresas industriais receberam R$ 163,8 bilhões em financiamentos, em valores corrigidos, ou 46,8% do total.