Cristina Lacerda – Escrever é um ato de coragem
É despir-se perante a interpretação individual de cada um. É expor-se a opinião pública da forma que melhor lhe convir . Entretanto, assim escreveu Clarice Lispector: “Perdi muito tempo até aprender que não se guarda palavras”.
Sendo assim e nesta linha de pensamento, escrevo, exponho-me e não guardo para mim, pensamentos que foram escritos de forma a deixar lições, reflexões, como essa súplica de papai transformada em prece, diante sua preocupação política naquela época.
Entre 1983 a 1984 explodiu um movimento para que o cidadão pudesse escolher seu Presidente da República, no ano de 1985, visto que com o golpe de 1964, não havia eleições diretas para tal cargo. Com o slogan de “Diretas Já ” o movimento criou forma e reuniu políticos, cantores, intelectuais, diversas lideranças políticas. Eunápolis manifestou-se através de seu povo e entre eles, o político Alcides Lacerda. Havia comícios por todas as capitais e a população ia às ruas fazer manifestação, declarar seus anseios. (Ressalto que o processo de eleições diretas só ocorreu em 1989)
Revirando recordações, encontrei nos arquivos dele, uma foto com sua súplica em forma de prece, para que Deus o ouvisse e atendesse os anseios que povoavam a cabeça de todos naquele momento, que passo a transcrevê-la na íntegra: “Deus! Sê Tu o primeiro a ouvir nossos testemunhos! Obrigado, Senhor! Não somos seres inúteis, Não somos subversivos, Não somos grupos do peleguismo,
Não somos comboios de agitadores,
Não somos os exploradores do Povo. Somos sim Senhor, teus operários!
Somos trabalhadores e como tais aqui estamos aos teus serviços, a serviço deste País, deste estado e deste município, trazendo um nome, um nome do PMDB, da Democracia e de nossos irmãos operários, de nossas palavras humildes, de confiança, de fé, de esperança e de amor. Obrigado, Senhor”!
Outubro de 1986 Alcides Lacerda.